Parte I – Demar
1 – Enfim...você
conhece aquele cara gordão, barba meio cinzenta e coisa assim...um
sujeito gigante que tá sempre de porre? Cabelo estilo soldado.
2 – Conheço um mundo
de sujeitos assim, cara. Um monte de motoqueiros metidos a nazi,
mamados de pinga e pó e breja.
1 – Não, esse é
fácil de reconhecer. Tava sempre com uns dois ou três pacotinhos
daqueles M&M's de amendoim no bolso, saca? Aquele amarelo, sabe?
Comia direto, falava que era a melhor coisa do mundo.
2 – Não fode, cara.
Como alguém consegue preferir aquele lixo de amendoim? Odiava quando
tinha só esse na caixa de bombom.
1 – Não gostava
também, não.
(Silêncio)
2 – Mas o que tem
ele? Acho que lembro quem é...acho.
1 – É, o cara bebeu
até o fígado dele virar uma pedra etílica dentro do corpo e agora
precisa de um novo pra tipo...ontem. Tá no hospital, nas últimas. O
fígado parou de funfar de vez e agora ele tem umas alucinações e
tal...tá ficando meio demente também por causa disso.
2 – Hmmm...que azar,
puta merda. Mas por que?
1 – Como "por
que"? Ele bebia umas duas garrafas por dia desde moleque.
2 – Não, por que ele
tá demente e alucinando e tal?
1- Ah, por causa
daquele fígado inútil dentro do cara. Para de limpar o sangue e zoa
todo o cérebro, sabe. Coisa louca...bem cruel.
2 – Eu sei, perdi um
padrinho por isso. Coitado dele. (SILÊNCIO) Faz você pensar em
parar de beber?
1 – Não. E você?
2 – Não muito.
1 – Não é um
problema pra mim
2- Pra mim também...não
muito, pelo menos. Mas provavelmente ele devia pensar isso também
(SILÊNCIO)
2 – Ele era meio
quietão quando a gente saia, por isso não lembrava dele. Nunca tava
com ninguém, nunca tinha namorada e coisa assim. Lembrei dele
agora...é...ele bebia que nem um cão de rua sem ninguém. Mas ele
não vai conseguir um fígado novo no hospital? Não vai tentar
doação?
1 – HAHAHA, doação,
cara? Quem é que vai doar um fígado novinho em folha pra um cara
desses diluir ele inteiro em álcool e drogas de novo? Não...vão
deixar o cara lá no hospital, morrendo lentamente, querendo um drink
e um cigarro, mas não vai dar nada pra ele porque vão dizer que é
para que ele fique melhor, mesmo sabendo que vai morrer. Ele não é
o Raul Seixas, né? Não...o fígado novinho em folha vai pra algum
paciente com câncer ou com alguma doença que não foi ele quem
causou. Ou talvez pra algum empresário alcoólatra podre de rico que
mereça mais um orgão novo do que ele.
(SILÊNCIO)
2 – Lembra aquela vez
lá no Estádio que ele levou um tapa na cara e umas cuspidas de umas
garotinhas que tinha começado a conversar do nada? Do nada, cara,
elas apenas riram do que ele disse e começaram a azucrinar o
sujeito. Depois disso ele chegou com um sorriso no rosto pra gente,
como se não tivesse acontecido nada...puta, foi engraçada a cara
dele. Aí depois ele bebeu até quase desmaiar, mas não sem vomitar
dentro do decote da Bia antes.
(RIEM)
1 – HAHAHA...lembro,
cara. Ri muito nesse dia.
2 – Ele era meio
patético de se ver assim...acho que combinava mais com porres e
ressacas mesmo.
1 – Aquele cortezinho
de cabelo...parecia o carinha daquele Nascido Para Matar, saca?
2 – Gommer Pyle.
Hahaha, é. Mas ele era firmeza. Quando abria a boca falava umas
coisas hilárias...às vezes saia alguma outra coisa interessante
também.
1 – Ou às vezes só
gorfava álcool puro.
(SILÊNCIO)
2 – Qual era mesmo o
nome dele?
1 – Não lembro o
primeiro nome. Nunca soube. Chamavam ele sempre de Demar.
Corta.
Parte II –
Visita especial ao moribundo
Passos de salto alto no corredor da UTI. Passos ritmados e sem
pressa de uma garota que anda serena no meio daquele ambiente tão
denso e triste. Portas abertas e semi abertas, casais, famílias,
crianças, idosos, muitos idosos com seus entes e visitantes em seus
quartos, sofrendo a morte sorrateira e sozinha, mesmo rodeados pelos
que se importam por eles. A moça desbrava aquele corredor branco e
vazio, enfermeiras e médicos estão todos ocupados no momento,
aparentemente. Ou estão fumando cigarros no térreo, no último
andar, nas janelas abertas apenas por frestas para que os que estão
nas últimas não cheguem às vias da morte mais cedo. Ela passa
tomando um café fumegante, não olha para ninguém. Sua pele é
branca e seus lábios vermelhos e grossos. Um enfermeiro perdido no
corredor a vê caminhando e pensa numa cena de Kill Bill que lhe veio
direto do inconsciente, tamanha semelhança com o personagem.
Ela termina o corredor branco, vira para a direita, outro corredor
branco. Vai até o final desse, como no outro. 502, 504, 506, 508,
510. 512. A porta do 512 era a única fechada em todo o corredor. E a
única que não parecia ter ruído algum por dentro, sem choramingos
ou gemidos de dor, apenas um som semelhante ao do começo do sono
profundo, minutos depois de deitar na cama após um dia cheio. A
garota branca bate na porta três vezes, ninguém diz nada do outro
lado da porta. Ela bate novamente, uma voz morta e decadente responde
um "entra" bem baixinho e a garota killbilliana abre e
disfarça um sorriso de alegria quando vê o homem deitado na cama.
Não que estivesse fingindo a alegria de vê-lo, apenas não queria
deixar transparecer o olhar de horror para o seu amigo havia virado
depois que internado. Triste, muito triste.
Demar está afundado em seu leito, com aparelhos hospitalares por
todos os lados, infinitos barulhinhos incontáveis vindo das máquinas
que estão pelo quarto, pequenas luzes desses grandes aparelhos vão
do escuro ao vermelho, do escuro ao verde, do escuro ao vermelho.
Todas sincronizadas com os apitos das máquinas. A garota não sabia
como era possível aguentar uma internação na UTI por meses e
meses. Demar estava lá havia um mês e meio e parecia já estar
completamente insano com tudo aquilo. Seu olhar era vazio, seus olhos
duas bolas amareladas e suas olheiras botavam medo até em assassino
psicopata. Havia perdido muito do seu notório peso nesse tempo. Ao
seu lado havia uma bandeja com comida que não foi tocada por
ninguém. Uma sopa com cara de vômito de cenoura e uma gelatina
azul. A moça sentiu seu estômago embrulhar e um gosto amargo vindo
de dentro de seu corpo. Segurou aquilo e se aproximou do moribundo
lentamente, ele fazia força para poder falar:
Ela ri junto.
Você não perde a piada nem nessas situações, né?
Não – respondeu após alguns segundos lutando contra sua fraqueza
A garota sorri para Demar, um sorriso branco e grande. Aquilo foi
a coisa mais agradável que o rapaz havia visto naquele hospital até
agora, nem as enfermeiras estagiárias tinham chance com o sorriso
dela. Então ele reparou que, além do sorriso, a garota passava a
mão carinhosamente por seus cabelos que começavam a crescer mais do
que ele já tinha deixado antes. Demar se sentiu como um cachorro
abandonado, que recebe atenção e comida de alguém na rua durante o
inverno. Pensou que deveria sentir vergonha de tamanha comparação,
mas achou que era o retrato mais fiel da cena, ainda mais quando
percebeu que estava de olhos fechados enquanto ela passava a mão
pelos cabelos dele. Ele não sabia porque ela fazia aquilo, não era
a hora certa para brincadeiras de provocações, no leito de quase
morte daquele diabo. Achou estranho que não reconhecia a cor do
cabelo da garota, aliás, não sabia qual cor escolher. Mudava do
moreno total para o loiro escuro e depois pra um ruivo mais claro.
Seus olhos também não tinham uma cor única quando ele os encarava.
Iam do verde claro para o azul e depois um castanho esverdeado. Uma
hora pareciam pretos como o de algum demônio e Demar achou que havia
perdido a cabeça de vez para sua doença e, dali pra frente, só
descida.
Você tá magro demais, Demar. Não tá com fome nenhuma? - Pergunta
a garota preocupada
Pouco. A comida também...lixo
É, eu sei como é a comida do hospital.
É, ela sabe como é, disse Demar para si mesmo. Sabia porque o
avô havia sido internado ali e ia visita-lo com seus diferentes
namoradinhos durante a semana, depois da aula, há anos atrás. Sabia
porque o avô comia a porcaria da comida hospitalar enquanto ela se
agarrava com os garotos embaixo do blusão da escola, sentados ao
lado do enfermo. Ela na verdade só sabia que a comida do hospital é
um lixo porque o avô vomitava aquela gororoba vira e mexe e sobrava
pra ela avisar a enfermeira sobre a necessidade de limpar aquele
nojo. Mas ela não tinha experimentado, não. Ela não ficou deitada
na cama sozinha por dias, semanas, comendo aquela bosta, furado por
agulhas e torturado por exames, notícias ruins, mortes, visitas de
antigos amores não correspondidos ou a falha quase total do seu
fígado.
Demar ficou em silêncio e imóvel por um instante, como se não
tivesse nem ouvido a garota falar algo.
Ninguém – respondeu com um tom de voz saudável
Ninguém? Claro que sim, o pessoal sabe que você tá aqui. Alguém
te visitou.
Ah...não lembro de ninguém ultimamente.
Devia tá dormindo aí.
Durmo pouco.
Ficaram em silêncio um tempo, ouvindo os sons do quarto, como uma
família de grilos hospitalares procriando por todo o cômodo. A
janela estava um pouco aberta, mas o Sol ainda não conseguia entrar
por completo. Ela foi até lá e abriu tudo, deixando a luz dominar o
quarto. Demar sentiu a luz queimar sua retina, mas achou bom sentir o
Sol mais uma vez, parecia até que estava fora daquela cama, fumando
um cigarro na esquina de sua casa enquanto conversava com alguém e
bebia uma cervejinha. Sentiu-se triste após esse pensamento feliz e
a garota já havia voltado para seu lugar, numa cadeira que
posicionou ao lado de Demar. Continuaram em silêncio mais alguns
segundos e ela falou, dando um pequeno pulo como se tivesse acabado
de se lembrar:
Ah...o Dani e o Heitor mandaram um beijo pra você. Falaram que vão
colar aqui um dia desses, mas você sabe, né...tão ocupados demais
fazendo nada.
Hahaha doidão aqueles dois haha – aquela risada saiu como um urso
morrendo na floresta e pareceu tirar parte do que restava de energia
do rapaz – Queria ver aqueles retardados mais uma última vez.
Para de falar besteira, Demar. Você...- e parou de falar, porque no
fundo sabia que Demar tinha razão.
Ele olhou para a garota sem palavras e ela ficava linda com aquele
olhar de duvida e seus cabelos e olhos multicoloridos analisando toda
a decadência do ser Demar. Pensou em comentar com ela sobre isso,
mas achou melhor não. Permaneceram em silêncio por mais tempo dessa
vez, Demar com o olhar distante e vazio, ela observando aquele
corpinho que agora não é nem metade do que foi antes. Antes gordo e
ereto, postura quase militar, agora decadente e magricela, indo cada
vez mais fundo em sua existência, chegando nas últimas goladas de
água fria de sua vida. E só queria que nesses últimos goles
tivesse 20% ou 30% de teor alcoólico, com grãos escoceses
especialmente selecionados. Seus olhos agora pareciam de um verde
vivo, brilhavam para ele, os cabelos foram do loiro para o preto.
Estou perdendo a cabeça, pensou Demar, mas era melhor do que morrer
são.
Alguns minutos mais tarde, Demar teve uma crise de tosses e
começou a vomitar sangue quase que aos pés de sua visitante.
Sentiu o líquido quente vindo de sua garganta e não pode evitar
aquilo, vomitou tudo e quase desmaiou com a falta de ar. O sangue
estava de um vermelho vivo, não havia nem um resto de comida não
digerida no meio daquilo, apenas bílis e sangue. Demar virou-se
envergonhado para a garota, que estava horrorizada com o sofrimento
do amigo, tentou pedir desculpas mas quando abriu a boca apenas mais
sangue saiu dela, como se tivesse levado um soco. Sentiu que havia se
cagado todo na camisola do hospital, não sabia aonde enfiar sua
cara. Não agora, por favor, não agora na frente dela, implorou para
seu corpo. Não sabia se havia se cagado, não conseguia falar nada,
sentiu sangue descendo lentamente pelo seu queixo e caindo na parte
de cima da roupa que usava. A garota agora recuperava-se do susto e
limpava a boca do amigo com a fronha de um travesseiro sem dono que
estava por lá.
Ele recuperava o fôlego aos poucos, ainda sem saber se tinha se
sujado por trás também. Achou que não porque a garota ainda estava
com ele. Viu que os olhos dela quase transbordavam lágrimas que ela
teimava em não deixa-las descer pelo seu rosto liso e atraente. Ele
se sentiu ridículo e teve dó de si mesmo por aquilo.
Ela passava a mão lentamente pelo cabelo dele.
Você viu que bonito fica o olho? Todo amarelo aonde era
branco...diferente, né? - perguntou Demar para a garota,
refirindo-se ao branco de seus olhos que estavam totalmente
amarelados devido à doença.
Eu vi, Dê...eu vi – respondeu como uma mãe responde ao filho
quando não está interessada em suas brincadeiras. - Você tá bem
mesmo, Demar? Você vomitou muito sangue! Aonde tá a enfermeira?
Não existe por aqui, não?
Tão trepando, caralho – a voz de Demar parecia de nervosismo e
impaciência, mas depois ele se tocou – Desculpa. Tão
fumando...comendo, demoram muito. Quarto escondido do... caralho.
Você quer alguma coisa? Eu vou pegar uma coisa no banheiro pra
colocar nesse chão, pera aí – correu até o banheiro e Demar
aproveitou para dar uma olhada no rabo dela com seus olhos
amarelados de azar. Uma bela visão final, pensou. Ela voltou com a
mão embolada em metros de papel higiênico e jogou em cima do
vômito sanguinário, ao lado da cama de Demar – Pronto, quando eu
sair eu chamo alguém pra vir limpar e depo...
Por que você veio aqui? - Interrompeu Demar e a garota não
entendeu muito bem a pergunta
Como assim...pra te ver, Dê.
Ele soltou um riso sem vida e olhou para o teto, permaneceu em
silêncio alguns segundos e a garota também, esperando que ele
continuasse.
Por que você veio aqui? Pra me ver fodido? Ter certeza dos boatos?
- ele levantava sua voz e ela enfraquecia aos poucos, depois teve um
acesso de tosses e pensou que iria se vomitar todo novamente.
Que boatos, Demar. Eu vim te ver quando soube que você tava por
aqui. Você sumiu e ninguém sabia aonde você tava, acharam que
você tinha morrido atropelado quando tava bêbado. Quando me
contaram eu vim assim que deu, pô. O que deu em você?
Você...você nunca me quis, filha...nem banhado em prata com grãos
de ouro...por cima....me via e....
O que você tá falando, Dê? Isso de novo? Já tivemos discussões
o suficiente em cima disso, não vim aqui pra isso, ok?
Ele ficou quieto olhando para o teto e depois fechou os olhos. Uma
lágrima escorreu pelo lado que a garota não podia ver tão bem e
ele ficou feliz por isso. Sugou as lágrimas para dentro dos olhos e
pediu desculpas para ela. Estava perdendo a razão.
Eu não queria...você sabe – tentou se explicar
Eu sei, Demar, eu sei. Relaxa.
Que essa não seja, sabe, última lembrança minha que você guarde,
sabe. Não fique...puta.
Para de falar assim, meu, sério. Não tô puta com você. Você que
devia estar com você mesmo, ter se estragado todo assim. Você é
novo pra caramba, Demar. Vai fazer o que agora?
Vô morrê.
Ela não respondeu e ele não teria ouvido se ela o tivesse feito.
Olharam o silêncio, o sol entrando no quarto, o cheiro azedo subindo
do chão, vindo direto do vômito asqueroso que ele soltou por lá.
Melhor você ir, sabe.
Eu fico mais, Dê. Vai ficar sozinho aí...zoado.
Não, não é um ambiente que eu gostava de frequentar antes...não
quero que fique vindo aqui por mim.
Ela hesitou um instante, mas cedeu.
Você é quem sabe, Dê. Eu só queria te ver hoje, sentia sua
falta, sinto mesmo...você que acha que não faz falta.
Demar pensou em comentar o fato de não ter recebido uma visita
sequer nas últimas cinco ou seis semanas, mas já tinha injetado sua
dose diária de sarcasmo hoje. Apenas sorriu para sua amiga e
balançou a cabeça suavemente. Sentiu o calor das mãos dela nas
suas, a pele macia e branca, o suor, a pontinha dos dedos rosada.
Queria enfiar aqueles dedos na boca. Sentiu algo perto de sua virilha
e torceu para que ela não olhasse mais pra baixo, já estava
constrangido o suficiente deitado todo vomitado naquela cama dura.
Fechou os olhos e dessa vez foi duro não chorar e a garota percebeu
isso com a força com que ele fechava a mão dele na dela, como se
não quisesse que ela soltasse nunca mais. Ela se sentiu triste por
isso e teria ficado mais tempo com ele, se não tivesse ouvido:
Melhor ir andando, sabe. Gostei de te ver mais uma vez, coisa mais
bonita que vi...não que seja difícil ser bonito nesse lugar, só
tem velho pelado se cagando todo na porta do banheiro e gente
chorando em cima de cadáver.
Ela riu. Até ele riu um pouco daquilo e não forçou.
Ok, eu tô indo, Dê. Gostei muito de te ver, tá? Muito.
Melhore...logo, sabe? Por favor
Sim.
A garota abraçou-o com força, ela nunca tinha feito isso antes.
Ele passou as mãos fracas e agora quase ossudas pelos cabelos dela,
sentiu o cheiro de shampoo de limão, adorava aquele cheiro. Apertou
ela mais forte ainda e imaginou como seria um grande desfecho
beija-la, uma última brincadeira antes do fim. Ela se afastou de seu
corpo mas ficaram a apenas alguns centímetros do rosto um do outro,
ele olhando para os olhos multicoloridos e ela para os olhos
amarelados. Ele se aproximou dela, de sua boca, ela elevou-se um
pouco e deu um beijo molhado e longo em sua testa. Faz sentido,
pensou Demar. A garota lembrou de um presente que havia comprado para
ele:
Tirou de sua bolsa um pacote amarelo de M&M's. Ele riu um
pouco e agradeceu.
Ela se virou para ir embora e ele reparou novamente nos cabelos
mudando de cor, agora do ruivo para um moreno amarronzado. Não se
aguentou e perguntou:
Ela sorriu o sorriso mais lindo que ele havia visto até aquele
momento em toda a sua vida.
Ele não respondeu, apenas acenou um adeus para ela acompanhado de
um sorriso. Ela mandou um beijo para Demar do batente da porta e saiu
de sua vista, deixando seu cheiro, seu suor e a janela aberta com o
Sol batendo no rosto do moribundo.
N.A: Algumas semanas depois, quando foram retirar o corpo sem vida de
Demar, encontraram o M&M's amarelo jogado no lixo do quarto.
Ainda fechado. Ele não recebeu outras visitas depois dessa, seu
corpo foi cremado e as cinzas espalhadas em uma praça perto do
centro por um enfermeiro que lhe concedia cigarros escondidos de
madrugada.